Fresta

E os pés flutuam sobre um vazio. 

Sinto-me vagando, sem ter um porto onde me ancorar, sem rumo, à deriva em meio a incertezas.
Frase clichê, destino clichê, fadado ao fracasso que assombra a mente dos mais realistas. E eu sou um deles. Não consigo mais sonhar. 
Permanente dentro deste coma da alma, sentindo facas pelo meu corpo, vindas de todos os lados. Do mel das abelhas hoje recebo ferroadas, dor inevitável. E das frases de incentivo que me faziam seguir hoje bastam insultos delicados, mas certeiros. 
Eu quero me desprender do que me faz mal, dos pecados que não cometi, e de todas as dores que parecem fazer questão de causar. Dilacerado. Quando penso conseguir me sentir bem, me derrubam. Quando não alimento mais a angústia maldita que me atormenta, eis que surgem os vermes. Corroem meu pequeno momento de luz. E isto com certeza é proposital.

Madrugadas, minhas companheiras, de despertar sem nexo, de suor contínuo e abafante. Nelas me dedico ao que sinto, sem medo de errar, sem propósitos externos, puro. 
Meus gritos no vazio, sim, eles, a pouco esquecidos ressurgem de tempos em tempos com a mesma intensidade. Eu grito no vazio, da vida que se propaga sem o menor sentido. E não julgues saber a solução, não é isto que quero. Quero apenas espaço. Na mente, de dentro pra fora. É penoso não saber o porque.

Neste dia em que as luzes se foram, em que os sons perdem espaço ao eco do silêncio, eu sangro mais um pouco. Levemente e provavelmente até o fim, da ultima gota. 

Minhas palavras torcidas, minhas rimas solteiras, de caminhos confusos e liberdade total. 
Lá de onde surge o inferno. Sim, ele mesmo, queria flores. 
Sempre as tais me trazem paz. Mas eu não nasci para paz.
E você que deve, para de sonhar. 
Sonhe.