Boneca

Eu abandono em um canto do quarto. Sem vida, sem calor, destrambelhada e sorriso pintado. Seus cabelos não tem perfume, seus olhos piscam se chacoalhados, manipulo seus gestos e suas falas.
Corpo lindo, colorido, transformado e modificado por mim. Pode ser sempre minha, posso emprestar, não se importa com nada.
Marionete com sorriso bonito, que ilude friamente, estrapola a dignidade, mata e fere. Se te pego pelos cabelos nem geme. Se xingo não retruca. Minhas experiências te excitam, mesmo você não sentindo prazer.
Esqueci de você por dias, me fez bem, livrando minha mente da mentira muda que ainda prega. Esfrego seu rosto contra a parede, mas na verdade queria arrancar sua cabeça fora. Queimar mesmo sabendo que não sente dor. Mas te uso como me usa, te manipulo como fui manipulado, eu controlo. Ou sou controlado?
Te trouxe a vida que quis, cresci sentindo você mais que a qualquer outra, e você apodrece, com o tempo, apodrece com o silencio, apodrece com a indiferença.
Largo você no esquecimento, de onde jamais deveria ter saído. Te cubro com entulho, escondo, quebro cada pedaço que um dia conservei intacto.

O que não existe não pode me matar. Você se calou.