Carta a Amiga

Eu sinto ódio, realmente. Sinto ódio quando desperto no meio da noite, tentando ainda achar razoes para conseguir entender, para tirar de mim essa insana angustia da duvida, de tentar descobrir o que fiz errado, onde falhei, porque falhei, e se falhei.
Talvez eu não tenha realmente feito nada disso, e eu me martirizo sem motivos por não compreender a sua atitude. Talvez eu tenha sido bom demais, e isto deixou uma ferida que nunca ira se fechar, pois ser bom demais pra alguém é pura entrega, e eu me entreguei a você como achei que se entregou a mim.
Eu me enganei, eu fui enganado, eu tentei substituir alguém que já não existia por você, e no final, as duas estão mortas.
Um espaço oco, uma incompreensão que me tortura dia após dia enquanto eu peço aos deuses que me façam esquecer, que me confortem de alguém que me traiu, de alguém que destruiu todo o sentido que deveria existir sobre amizade, amor, dedicação. Tudo se foi.
Como em um tornado, que sem aviso arrasta o que tiver pelo caminho, construído, destruído, sem perdão, sem deixar pedra sobre pedra, eu sofro.
Eu não merecia, por tudo que fiz, por tudo que todos viram que fiz, por todos os segredos que lhe contei, e verdades que eram verdades apenas para você, por considerar que o universo girava em torno do nosso mundo, e de tudo aquilo que passamos e eu achei, de novo achei, que era real. E acordar desse pesadelo, desse coma que me amputou todos os sentimentos, esta sendo difícil.
Eu realmente estou sofrendo, realmente gostaria que isto terminasse, e eu gostaria de parar de me sentir culpado por não ser culpado. As vezes gostaria de ter dado motivos realmente para que isso acontecesse, gostaria de ter sido contrário a sua vida, de ter te dado conselhos banais e de ter lhe ensinado como não viver. Mas eu fiz ao contrário, eu lhe dei forças quando todos lhe zombavam, eu te dei carinho a minha maneira, que por mais que seja estranho, é o mais sincero do universo, eu lhe fiz sorrir mais que chorar incontáveis vezes, e te provei que podia confiar em mim mais que em sua própria família, que alias, eu achei que fosse eu.
Ninguém jamais vai entender o porque de ser tão difícil eu deixar isso morrer, o porque de eu escrever, de eu externar a dor misturada com revolta que me assombra a quase um ano. Eu sou assim, e eu não sei ser superficial como os outros julgam que eu seja, ou como VOCÊ foi, destruindo um universo em alguns minutos.

Eu quero que você morra. Realmente é este o sentimento que me consome e que restou dentro de mim, como defesa e conformidade. Eu preciso que você morra, eu torço por isso, como nunca torci antes, ou como nunca desejei a ninguém. Pois nada vai curar a seqüela que ficou a não ser o dia que eu souber que você não existe mais. Eu rezo, peço e preciso, por mais maldito e surreal que possa parecer, mas o meu desejo é esperar pelo seu fim. Pois eu me esforço todo dia pra matar você aqui dentro, e repito a todos que me perguntam que você está morta e se foi, e realmente você precisa ir.

Um dia eu fui tudo que você poderia esperar de alguém, e hoje eu renego e condeno cada dia que você existiu ao meu lado.

Eu vou sarar.