Escuro

É no silencio onde escuto mais dentro de mim. Cada batida no meu peito, suspiro e calafrio. Aqui dentro é insano e hipnótico, sem nenhum controle.
Nesta quietude eu transponho a razão e me torno imortal, sem medos ou traumas, sem o sabor da derrota, nem tampouco o conhecimento da vitoria.
Um espaço neutro, analítico, constatante, sem ninguém por perto.
Se fecho os olhos é para buscar caminhos, trilhas, luz. Aquele pequeno ponto de esperança. Se me livro das dores me vejo órfão, seco, inerte. Talvez ela me alimente, me deixa nao desprender do que sou, daquilo que preciso ter dentro de mim.
Neste silencio onde escuto só a mim, não há conversa, há entrega. Sou o dono do meu choro, triste, alegre, real. Sou meu juiz e réu, minha sentença branda ou pesada, minha auto ajuda ou meu suicídio.
Questiono todo tempo, não aceito o obvio, não acredito. A frieza que cultivo hoje foi forjada pelas marcas cravadas ontem, e ninguém se livra de cicatrizes. Elas denunciam você.
Aqui dentro é insano e hipnótico. Talvez um dia eu te leve mais a fundo, além das palavras que digo, além desta degustação do que posso ser. Te convide a alcova melancólica que me preenche, buscando o incontrável, sugando cada energia em minha alma.
Se desperto sem razão, enquanto todos dormem é porque existe razão. Que eu devo tirar de mim o que sufoca, engasga, esgana. São gorfadas de inconsciência racional, que eu externo para que fiquem bem claras e nítidas. Aqui eu estive, estou ainda, e viverei assim pois assim devo viver.
Enquanto este silencio me consome, eu respiro e transpiro, preocupado comigo, mas já me aceitando melhor a cada dia.
Meu universo é mudo e escuro, as estrelas que aqui habitam ainda não morreram, apenas o sol.