Límpido

E se eu lutar que seja com armas que rasgam sem dó. Por caminhos que um dia evitei. Por motivos que jamais havia levado a sério. E se eu sangrar que seja verdadeiro. Que doa. Que permita sem melancolia apenas viver.
E eu não necessito desta falsa importância, dos gestos moldados, dos sorrisos rebatidos, e seus olhares, não dizem nada. Se eu viver que viva fora de mim, que transcenda todos os abismos, sem ao menos tocar o chão. De onde eu vim, não existe vida, não existem flores, ventos não afagam seu rosto, campos são secos e duros, água suja e podre, carne aberta, sem cor, sem luz. De onde eu vim não existia escapatória, não existiam poetas ou magos, não se falavam de glórias ou conquistas, sem sonhos.

Melhores momentos, piores palavras. Eu não escrevo pra ninguém, prepotência sua ao achar que és digna. Meus olhos desfocados me confundem, me transformam em refém de tudo que eu não sou. Se você pode viver, separe-se de mim, solte suas amarras, suma. Por mais que eu viva para querer, menos eu quero pra viver, menor meus temores, maior meus amores, e por mais que isso não faça sentido para você, esvazia meu peito.

Dos beijos secos que levo comigo, dos corações amarrados e palavras bonitas, dispenso mais. Dos perfumes que se misturam nós lençóis,  infinidade de amores, de dores, de sons. E todos eles me fascinam, me provocam, me chamam para o pecado. Este pecado sem medo, dos escuros, do lençol, da noite que não termina, dos afagos e por fim, do gozo...

...sei fazer isto. Sem força, apenas com o olhar. Me pertence quando quero, te solto quando enjoo, mas você volta. E sabe que volta sem pensar.

Quando eu vencer as batalhas, quando sequer uma unica delas estiver de pé, eu me darei por satisfeito. E vou seguir meu caminho, sem remorsos, pois não fiz por mal.  Mal faço à mim, aquele que judio sempre, que forjo com fogo ardido, corto com lâminas de sangue. E nunca você ou ninguém vai me perdoar.

Você pode me ver, mas não pode me notar.