Memórias

Lembro da época que não tinha problemas.
Amigos ao redor, apenas rir, sair, descalço pela rua, banho de mangueira no quintal.
Dos riscos de giz no asfalto, marcando nossas brincadeiras, deixados lá para aproveitar no outro dia.
Lembro dos machucados no corpo, da tiração de sarro pura e simples.
Do caminhar pelo campo de terra, suor na cara, sentado na calçada com respiração ofegante.

De todas as coisas que fazíamos se medo, de todos as descobertas que brilhavam em nossa face.

Eu sinto falta daquela rua, dos dias que vivi ali, das amizades que criei ali.
Todas as memorias que eu tenho de lá me fazem chorar, pois nunca mais voltarão.
E eu sinto falta de não ter dor, de não sentir arrependimentos, nem angustias.
Todos os pedaços que guardo dos sentimentos que não deixei acabar, se tornam reais.

Talvez eu seja um saudosista, que insiste em preservar um passado que me fez bem.

E eu relembro com sorrisos banhados a lágrimas do meu primeiro beijo.
Do nervoso que tomava meu corpo, e da satisfação de ter passado aquela etapa na vida.
Onde estão vocês hoje? E nossas noites a beira do morro, ao redor das fogueiras, sonhando.
Na antiga caixa-d'agua, de onde víamos os carros que um dia gostariamos de ter.
E o "canão" onde caminhávamos sem medo, agua da biquinha, pura e cristalina.

E eu aprendi ali a andar com minhas próprias pernas, de bicicleta, naquele mesmo campo de futebol

Nas manhas que eu acordava disposto a encarar o dia
Disposto a viver, como nunca havia vivido

E eu renego o sofrimento que tenho hoje por não achar merecedor.
Pois todo o bem que eu pude fazer eu fiz, e tentei ser capaz.

E hoje eu só gostaria de estar naquela rua, no alto daquela seringueira..
No meu mundo.