Sapato Preto II

Confissão:
"Hipnotiza, corrompe, pecado que desperta amor. Toque do calor, pedaço de brasa fria, arde sutil, entrega nos olhos o que sente, maltrata os desejos, e deixa, por mais proibido deixa. Contornos fumês, sombra que revela o que mata, satisfaz e provoca e não para. Vicio, desejo e querer. Doce, forte e sincero. Não há razão pra não ser, não escolheu, não decidiu, acontece sozinho. Inocência madura, que pisa onde quer, sapato de vinil. Não tenho culpa."

Culpa:
"Plena e incontestável. Provoca e ameaça, sabes que vence, provoca e consegue, sabes que tens, provoca e pede, sabes que merece. E deseja sem medo, e resiste aos furacões, e provoca e desfalece, sabes que venceu. Culpada por existir, pecado à flor da pele. Quem não entende desdenha, inveja que alimenta. Mas não afaga sua culpa, fato."

Fato:
"Não tem porque não. Medos que se foram, e daqueles que existiam, hoje restam apenas boatos. E quando vêem, não compreendem, e se corroem por isso. E ali onde desejou morar com belas cercas e paisagens, com suas montanhas que se destacam a luz do pôr-do-sol, é onde pretendem morrer."