Horas

Que elas passem, me carreguem, subtraindo as tristezas, apagando as pistas daquilo que se foi, que doeu. Que me leve ao longe onde só aqueles que se importam poderão encontrar, dizer obrigado e saudades, e participar. Traga comigo as marcas do que vivi, sonhei e lutei. Me envelheça a face mas não enterre meu corpo, me mostre apenas que vivi, mais que muitos e menos que outros, e que aprendi a não tentar entender.
Que demorem a se ir, se por acaso eu estiver bem, e ela me fizer sorrir e sonhar, afagando meu rosto e confortando meu peito, com segurança e amor, pedaço bom de um tempo escasso. E que se congelem se assim for meu desejo e se assim suprir minha necessidade, eu aceito. Mas que voem sem escalas ao longe, cada vez mais distante se por acaso me prender dentro desta angustia, desde rio de sentimentos doloridos, que voe, passe, se afaste e suma. Me mostre o fim da jornada ou o começo de um caminho.
Sem que eu escolha quando, me prenda, sem que peça mais, me conforte, eu as vezes não lhe aproveito, me ensine.
Que durem dias em duas ou três, se tornando eterna, cravada na história e irrefutável. Memórias que criam, de momentos que se foram.
Dure o que for, seja o que for, impartível e imparável, se assim se pode dizer.
Que as horas acrescentem virgulas a minha vida, e não apenas pontos.