Sentidos

E o coração dispara.
Com olhos ainda vermelhos, cansados, ardidos de não poder por pelo menos um tempo apagar e esquecer de tudo. Uma respiração descompassada denuncia a angustia. Os pensamentos que não cessam, mundo girando ao redor, duvidas transbordando em um ritmo caótico.
Fecho os olhos para não sentir a pressão, os ouvidos captam, qualquer nota desconcentra, traz de volta a tona como um tapa na cara, arde e queima, deixa marcas.
Cortinas abertas para mais um dia desgovernado, incolor, morno, lampejado. Movimento a cabeça como que querendo não acreditar, representando perguntas sem respostas, meus olhos ainda ardem insuportavelmente.
Ninguém sabe como é dormir com os punhos serrados, como se quisesse se segurar dentro de um esconderijo e não ser puxado. Os músculos tensos, isto impede o sono, ninguém sobrevive assim.
Transpiração constante envolta a um frio cortante, combatendo o obvio, prendendo. Camiseta molhada de um suor frio, um corpo desregrado, flertando com a falência.
Nada sobra, nada resta, a paz foi dissolvida em mais uma madrugada muda. A dor dos braços encolhidos, que protegiam o corpo como se de ataques, doem ao se abrir, ao se esticarem.
Eu não desejo este cenário a ninguém. Escapem de seus medos, subornem todos os sentidos, alivio da dor. Preciso apenas desligar, eu imploro por um coma, vazio imune a tudo, abstrato e vegetal.
Meus sentidos culminam em descontrole e falta de nexo, onde qualquer palavra se transforma em pedidos de socorro. Registro tudo, me faço presente, incompreensivo, indecifrável, incógnito.
Seja capaz de absorver ao invés de temer, eu não reluto mais ao meu fim.