Cativeiro



Já com o corpo dolorido da noite passada, mesmo sem conseguir abrir os olhos. Deitado encolhido com frio e sem espaço para se esticar. Ele pensava que aquilo era um sonho, não entendia porque de tudo isto estar acontecendo justamente quando parecia estar tudo bem. Uma pequena luz clareava as sombras de um inferno, onde se ouviam vozes e ruidos, vento e chuva.

A dor aumentava, sem controle, uma ânsia crônica visitiva seu corpo sem perdão. Mal cheiro, as vezes era melhor não respirar. Uma após a outra, suas esperanças iam dissolvendo, como em um paredão de fuzilamento, sem trégua. Ele não sabia se seria o próximo. Novamente a dor protagonizava os fatos. Um gemido para aliviar. Gritos são proibidos, condenados, punidos. O sangue desistiu de escorrer de suas feridas, nem ele possui forças pra lutar.

Não existe nada mais mortal que a falta de perspectiva. E ela invadiu seu corpo naquele momento, se apoderou, tomou conta de sua alma e cortou todas as raízes. Olhava para os lados, mesma visão, a dias. Torturante.

Passos fora do local. Esperança, pensa ele. Por um segundo seu corpo renasce, seus olhos se arregalam esperando ver o que a meses não podia. Dentro das veias o sangue luta por espaço, revigorando. Olhar fixo em direção ao que se aproxima.
Luzes, passos rápidos, palavras misturadas, barulhos. A voz que estava a distância agora sussurra em seu ouvido. Um puxão em seu cabelo, um tapa, ódio e dor.
Instinto, seus olhos se fecham novamente, o transe contínuo volta com força total. Coma.

Mais do mesmo. Sem fim jamais.