Chamas


Sem inferno, ou céu.
Dia após dia o que se vive é a historia que preenche os espaços marcados. Não há perdão, segunda chance, subornos ou ressurreição. Cada marca no rosto é definitiva. Os olhos secam com a força das tempestades de areia, ardem ao toque, sufocam até matar. O que não pode ser evitado.

Quanto mais a alma entra em agonia, mais palavras perdidas são ditas e eternizadas. A razão se perde entre os labirintos de um mundo que ele não gostaria de enfrentar, mas está cravado ao seu redor. Nada daqui se levará, nada será lembrado quando os olhos pela última vez fecharem e a respiração dormir. Pronto, terminou.

Quantas sobras de vida passaram despercebidas e nada permaneceu. Histórias banais, momentos sem lembrança, pequenas gotas de um prazer forjado e maquiado. Não existia o pecado, a luxúria, o inferno, o céu. Seus dedos rasgavam a pele e seus gritos ecoavam por aquele quarto úmido e quente. Suor, suspiros e confissões. Maestro do olhar, conduz seu desejo como um assassino em série, preparado pelo tempo para nunca errar.

Nada de correto em seus atos, muito menos de errado. Os anjos comem e dormem, sangram e sofrem. Mais justo que isso, apenas acreditar em sua morte.

Anjos do inferno.
Demônios do céu.