Orvalho



Como são simples os detalhes das rosas. Naturais. Os contornos de suas pétalas, as formas suaves que contrastam com seus espinhos doloridos. Se abrem de tempos em tempos, mostram sua pureza, suavidade. Expressam a delicadeza e a dor de forma nua e crua.
E nós imitamos as rosas. Dias fechados e relutantes, sombrios e nebulosos, onde nada mais importa do que se trancar dentro de si. Respingar a chuva, esconder-se do sol, lutar contra o vento.
Castigada pelo tempo.
Dias em estado de graça. Abertas e reluzindo imponência, força, beleza e perfeição. Chamam a atenção de todos, adornam espaços, combinam com o mundo, transmitem sentimentos e conquistam sentimentos. Exalam o odor da volúpia e do instinto. Profundas beldades.

O mais incrível no entanto é saber que elas, as rosas, não se dão conta de todo este poder. Simplesmente são usadas. Dó das rosas, dó como vítimas das imperfeições humanas, choram por nós, riem por nós. Sequestradas pelo simples fato de serem perfeitas. Dó das rosas.

Quanto mais eu insisto em me calar, me vejo refém das palavras que conduzem meus dedos. Não acreditem nelas, eu desconfio delas, vejo pequenos espaços, e passo por eles sorrateiramente. Não confiem como eu não confio. Confuso como quase sempre. Não devo tocar dentro de ninguém.
E onde estão as rosas? E será que para elas eu seria perfeito? E porque falar de rosas? Para expor os espinhos. Aonde ele quer chegar? Perguntas, não respostas.

Botões fechados, inverno. Não procure por elas, elas se foram. Mais um tempestade, e a vida segue. Porque falamos de rosas Deus?