Exposição

As vezes ela me pega pela mão, me levando de volta aquele local silencioso e vazio. Vazio aos seus olhos, não aos meus.
Ali dentro onde tudo parece frio e mudo, onde tudo se esconde, onde eu não gosto de voltar, mas onde sempre sou obrigado a visitar. Pois ela não me convida, não me pede permissão, apenas se faz presente e faz de sua vontade uma obrigação.
Mesmo que eu mate por dentro, não morre, não esconde seu propósito.
E lá estou eu de novo dentro deste museu da tristeza. Onde guardo as mágoas que vive, as pessoas que perdi, as derrotas que sofri. E a cada curva, uma nova sala, onde relembro as trágicas passagens da minha vida. Onde pessoas que me decepcionaram ou me fizeram sofrer estão imortalizadas, cravadas nas paredes. Algumas exibem bolor, de tempos antigos, de antigas verdades que se dissolveram no ar. Outras como tinta fresca, ali pela primeira vez, em uma coleção onde tenho certeza não gostariam de estar.
Por estas salas eu caminho, eu relembro, choro. Obras primas de vida que não existem mais, de histórias abortadas, do fim de um ciclo que inconformado sou obrigado a sepultar.
Mas as visitas a este local não cessam, há salas vazias, prontas para receber mais lembranças, mais motivos para não sorrir.
Eu queria trancar este local para sempre dentro de mim e desaparecer com as chaves, mas não, não seria justo comigo apagar o que vivi apenas por serem lembranças ruins. Eu encaro, eu assumo, eu preservo, mesmo que por sofrimento, por incondicional tristeza.
Esta é minha vida, de onde não posso sair, locais onde me escondo, onde exibo os espinhos que flores camuflam. Estes são os locais onde você jamais estará, a não ser que me apunhale pelas costas, e que não tenha remorsos quanto a isso. Estes são comodos forjados por meus pecados, muitos deles por acreditar demais. Estas salas cheias exibem uma exposição sem autores, sem obras-primas, sem glamour.


Este é o museu das minhas dores.