Retrato II

Não quero medalhas, reconhecimento, aplausos ou tapas nas costas.
Não quero pena, dó, esmola ou solidariedade.
Vivo a vida que escolhi, com suas consequências explicitas e refletidas diretamente sobre mim.
Eu não culpo você, não culpo ele, não me culpo. Pois não me arrependo. Se me faço falar é porque necessito, sinto como se algo sempre me impulsionasse. O que levo das palavras que digo sacodem meu ser e me faz pensar mais.
Eu não sigo os mesmos rumos, não partilho das mesmas ceias, não divido o mesmo pão. Eu ofereço o meu. Pois não sei dividir, sei doar. E quando me dôo aquilo que acredito é por inteiro, e sem mentira.
A anos que sustento meus atos, desde moleque, estranho da turma, equilíbrio dentro de um sistema repetido. Sempre estive ali, encravado dentro dos acontecimentos, se fazendo notar, gritando para aqueles que nunca ouviram.
Eu não sou único, mas sou um dos poucos persistentes, que sobreviveu. Eu não sou único, sou presente, me faço necessário.
E por mais que todos odeiem não compreender, admiram as proezas, as palavras, a coragem que me sobra, e que falta a muitos.
Se preciso for sentir dor, eu estou preparado, porque a dor que rebate por dentro de longe cobre a dor física. E aquilo que marca é o que se foi cravado com força.
Palavras sempre mais fortes que músculos, que atos, que imagens. Porque palavras não morrem, adormecem.
O meu legado é eterno, a minha vida provavelmente curta, pequena o bastante que se eu fosse me calar, passaria despercebido, como muitos. E isso não caberia em mim, como não coube ao Anjo De Luz viver entre nós. Salva do inferno que banha meu corpo, das hipocrisias que ofuscam minha vista, das facadas que tomam meu peito.
Eu por eu mesmo, não culpo aqueles que estão ao meu lado. Procuro ensinar, trago pela mão. Se você esta comigo você esta cercada de força e coragem, e se for esperta se torna eterna. Sou capaz de reconhecer, eu nunca caminho sozinho, não perante aos olhos, e passo a coragem de ver a vida assim se você quiser enxergar.
Enquanto o tempo sucumbe meu corpo, me envelhecendo, enquanto o tempo encurta os limites entre o inicio e o fim, eu sobrevivo.
E se minhas palavras de certa forma atingem você, se minhas palavras de algum modo ecoam por vazios dentro de você, se minhas palavras te libertam mesmo que por lampejos instantâneos, eu cumpri minha missão. Fato.
Não me sinto triste, por mais que pareça. Minhas palavras refletem minha alma, não meu estado de espirito. Meus gestos sim, meu comportamento sim.
A minha cura não existe, eu convivo com isso.
Este é o meu legado.