Em Dobro


E eu viro a outra face para mais tapas, que ardem, que doem, que arranham, que sangram.
Porque meu outro lado já está esfolado, e sem mesmo sentir mais dor, a repetição vicia. Quando a harmonia se perde, a melodia tropeça no descontrole. Nem os mais belos momentos resistem ao sabor amargo do descaso, da eminente falta do propósito.
E eu continuo a resistir ao golpes que a vida resolve me dar, apenas não sei até quando, mas eu não escolho isto mesmo.

Selvagem e irracional, benditos aqueles que permanecem assim por toda eterninadade. Porque por quanto mais o tempo corre em frente aos meus olhos, mais eu percebo que criamos nosso próprio fim. Sozinhos, cada um à sua maneira.

Queria falar mais das flores, como já citei antes. Fortes, reluzentes, brilhantes. Esbanjam a vida em sua plenitude. Sem remorsos, mesmo quando ferem com seus espinhos.
Mas as flores que hoje vejo são cinzas.
Pequenas feridas sustentadas por um unico fio, uma folha, um pequeno espasmo de vida. Cinzas como a dura realidade de um outro fim, bem próximo.

E eu sou imaturo ao ter tanta experiência.
O que me causa arrepios e tira o sono como sempre, sem eu poder resistir ou lutar contra. Não sei lidar, não aprendi com o tempo, e o tempo aprendeu a me enganar.

Me ensina a ser livre, sem me livrar.