Refém


Ninguém podia tocar suas mãos. As pontas dos dedos procuravam por uma simples sensação de presença, mas sem sucesso. O desespero é eminentem quando a noção de estar sozinho preenche seu corpo, toma o controle, enforca e sufoca.
Nada é mais aterrorizante que um despertar ímpar em meio a desconhecidos. E isto estava eminente em sua vida. Silêncio e transtorno. As pessoas se distânciam do que não conseguem compreender, sem perceber que colaboram com a decadência.

Chega de fato!

E por onde anda a inspiração? Adormece de tempos em tempos, calando-me sem perdão. Não existe receita, não existe o caminho planejado. Servo do inconsciente, escravo do transtorno. Vai inspiração, me abra mais uma vez as asas para transpor essa dolorosa barreira que sangra meus olhos. Me dope com suas doses cavalares de magia para que eu não sinta os pregos que me cravam a este mundo. Apareça!
Não seja medrosa como eu! Não sucumba ao que eu reluto em engolir, faça você seu caminho. Maldita inspiração que me pune dia após dia. Te odeio por me sentir seu escravo. E nada poder fazer.

Me use, me conduza, me moleste perante os outros! Seja capaz de me derrubar e me servir ao porcos. Não tenho como lutar e aceito a derrota como carma. Me corte em pedaços, desmembre as chances de transformar isso em algo racional. Sou incapaz de sentir seu cheiro, seu sabor, enxergar sua face. Desistir de renegar o que você, inspiração, me manipula a fazer.

Terceiro ato.
Te cerco, te encurralo, te determino um fim. E nada pode ser feito. Porque a força pra te imobilizar por pelo menos um tempo é dádiva minha. Mesmo sabendo que você voltara, por agora te tranco dentro do deserto escuro da minha mente. Insana, infame, inerte, intropectiva perante ao mundo monocromático.

Desculpe inspiração.